domingo, 21 de agosto de 2011

Jerusalém e o Estado Palestino

Jerusalém e o Estado Palestino

Humberto Viana Guimarães

No que se refere à cidade de Jerusalém temos que ser realistas: ela jamais foi a capital de qualquer nação árabe. A sede do califado mulçumano sempre foi Bagdá, e as rotas do comércio sempre passavam pelo Cairo e em Damasco. A Jordânia invadiu e ocupou Jerusalém Oriental – 1948-1967 –, dividindo a cidade pela primeira vez, desde a sua criação, sendo o único período, desde os tempos bíblicos, em que não houve presença judaica nessa parte da cidade.

A Jordânia não só expulsou os judeus como proibiu que eles orassem em seus lugares sagrados, além de criar sérias restrições de acesso aos cristãos. Para tal, o governo jordaniano separou os dois setores da cidade com cercas de arame farpado e campos minados, para assim controlar a entrada daqueles que não fossem árabes e mulçumanos. Cometeu todo tipo de arbitrariedade para fazer desaparecer qualquer vestígio da milenar presença judaica na cidade: destruiu várias sinagogas (algumas viraram estábulos) e profanou o milenar cemitério judeu do Monte das Oliveiras, para que ali passasse uma estrada. Suas lápides foram utilizadas na pavimentação e em latrinas.

Uma verdadeira violência, pois a Resolução 181 da ONU previa o livre acesso e trânsito de todas as nacionalidades, sem distinção de credo. Nem nos mais remotos tempos foram cometidas tais arbitrariedades. Mesmo depois da retomada de Jerusalém, em 1187, pelo sultão curdo Salah ad-D?n Yusuf ibn Ayyub (Saladino), e no período do império otomano que durou mais de seis séculos (até 1917), nunca havia sido cerceada a liberdade religiosa das três maiores religiões monoteistas.

Que as autoridades do Estado Palestino procedam como o governo de Israel que, como país democrático, após a reconquista da parte oriental de Jerusalém em 1967, deu plena e total liberdade religiosa e acesso, sem qualquer tipo de restrições, aos lugares sagrados dos cristãos, judeus e muçulmanos. Todos circulam livremente.

Curiosa, portanto, essa intransigente exigência da Autoridade Nacional Palestina em ter a capital do Estado Palestino na parte Oriental de Jerusalém.

Pergunto: estarão de fato, Mahmoud Abbas, comandante do Fatah e presidente da Autoridade Nacional Palestina,Khaled Meshaal, do Hamas (antes dos conflitos na Síria, vivia nababescamente em Damasco — como nunca quis enfrentar a batalha, “se mandou” para Doha, no Catar, a milhares de quilômetros de Gaza, e Ismail Haniyeh, seu porta-voz, que se vire!) e Sayyid Hassan Nasrallah, do Hezbollah, dispostos a uma paz definitiva com Israel? Dá para acreditar nas promessas do Hezbollah, que é financiado pelo Irã, cujo presidente, Mahmoud Ahmadinejad, nega a existência do Holocausto e prega abertamente a destruição de Israel? E o que dizer do Hamas, que, após a morte de Bin Laden, fez uma declaração considerando o saudita com um “santo guerreiro árabe”?

O primeiro gesto de boa vontade por parte dos palestinos é reconhecer o Estado de Israel. Como disse Benjamin Netanyahu em seu discurso no Congresso americano em 24/05: “Eu aceito o Estado Palestino. É hora de o presidente Abbas conclamar o seu povo e dizer ‘Eu aceitarei o Estado judeu’”.

Na Sura Al-Baqarah 2,143, do Corão (Al-Karim al-Qur’an), está escrito: “E, assim, fizemos de vós uma comunidade mediana, para que sejais testemunhas dos homens e para que o Mensageiro seja testemunha de vós”. De acordo com a tradução do Corão elaborada pelo eminente professor de estudos árabes e islâmicos da Universidade de São Paulo (USP) Helmi Mohamed Ibrahim Nasr – uma das maiores autoridades mundiais no assunto –, com a colaboração da Liga Islâmica Mundial impressa no Complexo do Rei Fahad, Arábia Saudita, a palavra “mediana é tradução do vocábulo árabe ‘wasat’, e indica que a nação árabe deve estar isenta de extremismo, em todos os aspectos, uma vez que, segundo a máxima árabe, o que é melhor está no meio, aliás, essa ideia coincide com a máxima latina ‘in medio stat virtus’”.

Que os palestinos sigam os ensinamentos do Profeta (sallAllahou alayhi wasallam, que a bênção e a paz de Deus estejam com ele).

*Humberto Viana Guimarães é engenheiro civil, consultor e pesquisador da História do Oriente Médio

extraído do blog "Noticias da Rua Judaica" - Agosto/2011

sábado, 11 de junho de 2011

Um conto de duas cidades: Istambul versus Jerusalém










Texto extraído do blog “Noticias da Rua Judaica” (http://www.ruajudaica.com/) , muito interessante sobre a polemica trazida a tona recentemente. Só pela introdução histórica já vale a pena, depois sua conclusão sábia.

Reflitam sobre a pergunta feita pelo autor no final do artigo. Segue ...


verdade sobre as fronteiras de 1967
Descrição: http://www.owurman.com/images/linha_pontilhada.gif


Um conto de duas cidades: Istambul versus Jerusalém

Burak BEKD?L

Recentemente, tem havido muitas conversações sobre um retorno às fronteiras árabes e israelenses de 1967, incluindo uma nota fluida dita pelo presidente Barack Obama. A primeira parte desta mini-série vai visitar Jerusalém em 1967, e retornar para Istambul em 2011. Em primeiro lugar uma anatomia cronológica dos eventos que conduziram para a Guerra dos Seis Dias em 1967, e como a guerra foi travada:


- Gamal Abdel Nasser, o carismático líder do Egito era o queridinho dos árabes. Ele sonhava com uma nação pan-árabe, mas, ele pensava, o principal obstáculo no meu caminho é Israel. Nasser morreu de ataque cardíaco três anos após a Guerra dos Seis Dias. Seus amigos disseram que ele morreu com um coração ferido.

- O não tão carismático primeiro-ministro de Israel, Levi Eshkol, não era queridinho de ninguém, especialmente durante a crise diplomática que levou à guerra de 1967. Muitos israelenses duvidavam da sua capacidade de administrar um país que estava caminhando para a guerra com múltiplas frentes. Ele também tinha um sonho, e que não era o pan-israelismo, nem a conquista de Jerusalém. Ele sonhava com a paz. E ele, também morreu com o coração ferido, de acordo com sua esposa.


- Na primavera de 1967 a Síria abrigava e treinava militantes palestinos, que declararam que a causa da sua guerra santa era a "aniquilação do Estado de Israel". Em um incidente caças de combate de Israel e da Síria colidiram, e o primeiro-ministro Eshkol emitiu uma leve advertência para Damasco.


- O Kremlin leva a sério a advertência de Eshkol. Em 1967 o Egito assim como a Síria estavam sob a influência soviética. Na primavera de 1967 os soviéticos secretamente transmitem notícias surpreendentes para o porta-voz do parlamento do Egito, Anwar Sadat: Em uma semana, Israel estará pronto para atacar a Síria. Sadat transmite com urgência a informação para Nasser.


- Cairo ordena que quatro divisões se posicionem na fronteira do Sinai. Ele também convoca milhares de soldados da reserva. Finalmente 40.000 soldados, mais de 300 tanques de fabricação soviética, artilharia e viaturas de transporte de tropas atravessam o Sinai. As nações árabes com entusiasmo apóiam as tropas na fronteira.


- As informações da inteligência soviética mostraram ser uma farsa. Israel não ataca a Síria. Mas Nasser não pode voltar atrás da idéia de acabar militarmente com Israel. Ele está sob pressão de seu próprio estado maior militar, da sua própria nação e do mundo árabe.


- E enquanto Israel celebra o 19º aniversário da sua independência, o gabinete de guerra mobiliza uma brigada de 3.000 homens, e convoca reservistas. A população de Israel é de 2,5 milhões de pessoas.

- Uma zona tampão com alguns milhares de soldados das tropas da ONU separam as tropas inimigas. A missão de paz já está lá há mais de 10 anos. No dia 16 de maio Nasser ordena ao Comandante da Força da ONU Indar Jit Rykhye para que evacue as suas tropas dentro de 48 horas. Quando Rykhye pergunta a um comandante egípcio se o Egito estava ciente das conseqüências, o comandante responde: "Oh senhor (não se preocupe), eu vou encontrá-lo para almoçarmos em Tel Aviv". A força deixa a região e Egito e Israel são deixados sozinhos.

- Em 22 de maio Nasser fecha o Estreito de Tiran à navegação israelense, o que praticamente se constitui uma declaração de guerra. Este ato eletriza o mundo árabe, especialmente os palestinos de Jerusalém Oriental que haviam sido deslocados em 1948. Nasser fala sobre o retorno às fronteiras pré-1948, ou seja, Israel não existiria mais.

- O Secretário Geral da ONU, U Thant, chega ao Cairo, mas não consegue convencer Nasser, que lhe diz reservadamente que ele tem medo de um golpe de estado ou de ser assassinado. Os generais egípcios querem a guerra, Nasser afirma.

- O Ministro das Relações Exteriores israelense Abba Eban viaja para Washington, mas não consegue a ajuda dos Estados Unidos pois o presidente Lyndon Johnson não se compromete que os EUA ajudarão se Israel for atacado.


- Há entusiasmo e apoio no mundo árabe para a próxima guerra. O Kuwait promete que o seu exército ficará sob o Comando Unido, juntamente com a Argélia, Marrocos e Tunísia. O Rei da Arábia Saudita Faisal se une a coalizão, e diz: "Queremos ver o extermínio de Israel".


- No dia 30 de maio o Rei da Jordânia, Hussein voa para o Cairo para assinar um pacto de defesa com Nasser. O exército jordaniano agora será comandado por um general egípcio.

- A CIA informa ao chefe do serviço de inteligência de Israel, Meir Amit, "Nós planejamos nada fazer, se Israel for atacado".

- As 07:50 do dia 5 de junho, a Força Aérea israelense decola para atingir todas as bases aéreas do Egito simultaneamente. Em três horas a força aérea egípcia é totalmente destruída, tendo perdido 280 modernos caças e bombardeiros. E em duas horas a força aérea síria é destruída e alguns minutos somente para destruir a da Jordânia.


- A população árabe dança nas ruas quando as transmissões de rádio do Cairo informam sobre grandes vitórias contra Israel. Israel ordena o silêncio de rádio total. Depois que Israel destruiu as linhas de comunicação jordanianas a Jordânia somente recebe notícias da guerra pela Rádio do Cairo. Em uma conversa telefônica Nasser diz ao rei Hussein que os aviões egípcios estão sobre os céus de Israel. Incentivada pelas (falsas) notícias a Jordânia bombardeia cidades israelenses.

- A batalha por Jerusalém começa. Israel envia pára-quedistas para Jerusalém. Em cinco horas a resistência da Jordânia está vencida.

- Uma conversa telefônica de Nasser com Hussein é interceptada, na qual os dois discutem se devem culpar somente os EUA ou os EUA e a Grã-Bretanha pela derrota humilhante. Ambos, eles concordam.

- Nas negociações na ONU o Egito e Síria recusam um cessar-fogo e terra por um acordo de paz.

- O exército egípcio se retira do Sinai. Israel captura dezenas de milhares de prisioneiros que posteriormente foram soltos.

- Em quatro dias Israel vence Egito e a Síria e controla toda Jerusalém. Mas os bombardeios sírios começam. No quinto dia Israel ataca a Síria e captura as Colinas de Golan. Desta vez na ONU, a Síria quer um cessar-fogo, mas Israel resiste. O exército israelense chega a 40 quilômetros de Damasco. Então Israel faz uma parada e concorda com um cessar-fogo.



- A Guerra dos Seis Dias acabou. Israel agora controla 3,5 vezes mais território do que tinha a seis dias, incluindo Jerusalém. Israel oferece a devolução do Sinai e das Colinas de Golan em troca da paz; também Israel está disposto a negociar sobre a Cisjordânia, mas insiste em manter toda a cidade de Jerusalém.

- Um mês após a guerra os líderes árabes se reúnem em Cartum. Nasser ainda é o líder indiscutível do mundo árabe. Os líderes árabes recusam a proposta conjunta EUA-URSS de terra por paz. A convenção termina com quatro notas: Não ao reconhecimento de Israel, não para negociações, não para a paz, e todos os Estados árabes devem se preparar para uma ação militar.

Portanto vamos tentar nos livrar das amarras da ideologia religiosa ou apenas da ideologia e tentarmos sermos justos. O retorno às fronteiras de 1967 significa uma aposta sem perda, uma contradição em si mesma. É o mesmo que apostar dinheiro em um jogo, perder e fazer um escândalo na loja de apostas para devolverem o dinheiro. Em termos de guerra, isso seria o mesmo que os gregos propondo para que a Turquia voltasse às fronteiras pré-1923: Eles atacaram, perderam, e os gregos, ao contrário dos árabes, não têm a intenção de capturar a Anatólia central no século 21.

Aqui a questão é simples: Será que a Arábia Unida hoje concordaria em voltar para as fronteiras de 1967 se a sua gloriosa força de oito nações unidas conseguissem aniquilar Israel há quatro décadas? Os árabes deveriam ser capazes de entender que eles sempre podem desfrutar de um almoço em Tel Aviv, como os pacíficos cidadãos árabes de Israel o fazem, uma vez que superem o ódio religioso e ideológico e façam a paz com Israel.