segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O Tigre Semita

Por: Carlos Alberto Montaner*


Primeiro se começou a falar dos quatro ''tigres asiáticos'': Taiwan, Singapura, Coréia do Sul e Hong Kong. Eram países que no curso de uma geração saltaram da miséria ao desenvolvimento. Depois vieram Nova Zelândia (o tigre anglo), Irlanda (o tigre celta), e também o Chile, ao qual passaram a chamar o ''tigre latino'', pais que parece decididamente encaminhado a fazer parte do Primeiro Mundo.

O curioso é que entre essas histórias de êxito ninguém cita a mais impressionante de todas: Israel. Recentemente completou 60 anos de sua tempestuosa fundação no inóspito areal do Oriente Médio.

Quase ninguém então apostava na sobrevivência daquele pequeno Estado surgido na tensa primavera de 1948 em meio dos primeiros combates da guerra fria. 

Os pais fundadores eram apenas um punhado de sonhadores cercado por dezenas de milhões de árabes dispostos a esmagá-los. Não tinham exército nem dinheiro, e provinham, alguns deles, do espantoso matadouro nazista, onde seis milhões de judeus acabavam de ser executados no mais sinistro genocídio registrado pela história da humanidade. Tinham, isso sim, uma desesperada convicção: construir um espaço seguro e decente onde o atormentado povo judeu pudesse sobreviver ao brutal anti-semitismo esporadicamente praticado por quase todas as outras nações monoteístas surgidas de Abrahão, o pai comum de judeus, cristãos e maometanos.

Israel tinha tudo contra si: a geografia, os vizinhos, o solo miserável e seco, a escassa e variada população, e também o idioma, porque o hebraico era uma língua ritual, praticamente morta, confinada à sinagoga e à leitura dos livros sagrados, que teve que se revitalizar enquanto a população judaica se comunicava nos idiomas vernáculos dos países de onde provinha. Uns o faziam em alemão, outros em polonês ou em iídiche; havia os que só dominavam o turco, o árabe ou o grego. A etnia, além do mais, se dividia profundamente em duas comunidades nem sempre concordantes: os asquenazis, geralmente de origem germano-polonesa, e os sefaraditas, originalmente procedentes da Espanha, de onde foram expulsos em 1492.

Não existia, pois, um povo judeu, mas diversos povos judeus forjados na diáspora, incluindo os que emigravam do Iêmen, Marrocos, Etiópia e, sobretudo, da Rússia. Tampouco possuíam alguma característica física ou dominante que os caracterizasse fisicamente. Vinculavam-se, além disso, de distintas formas à tradição religiosa e cultural do novo e desconhecido país, ostentando graus bem diferentes de desenvolvimento intelectual e acadêmico. Variedade que, sem dúvida, não era o melhor aderente para unificar a nascente nação que deu seus primeiros passos em meio a uma invasão destinada a "lançar os judeus ao mar''.

O que fizeram em sessenta anos os israelitas com esse mosaico heterogêneo e difícil? Fizeram uma complexa democracia parlamentar, reflexo da diversidade de uma vibrante sociedade que hoje conta com mais de sete milhões de habitantes, radicados num diminuto país de apenas 20.000 quilômetros quadrados, que desfrutam de todos os direitos individuais, na qual as poderosas forças armadas estão subordinadas à autoridade dos civis. Fizeram um governo razoavelmente eficaz, mais honrado que a média, apesar das turbulências que tiveram que viver. Fizeram um país com uma população altamente educada, com o menor índice de violência social do mundo, incluído aí 16% de pessoas de religião islâmica, uma minoria, também israelense, dificilmente assimilável, mesmo quando constitui o grupo árabe — homens e mulheres — que mais liberdades e prosperidade possuem de quantos povoam a terra.

Israel hoje tem renda per capita de US$ 29.000 e, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, que mede a qualidade de vida, faz parte dos trinta países “top” do mundo, entre a Alemanha e Grécia, e aonde não comparece nenhuma outra nação do Oriente Médio (nem da América Latina), embora tenha que dedicar à sua defesa nada menos que 8% de quanto o país produz, porque já verteu sangue em pelo menos três custosas guerras e amanhã poderia começar a quarta.

Como Israel conseguiu este milagre econômico? Essencialmente, cultivando seu enorme capital humano e suas virtudes cívicas, a base da inteligência, rigor, trabalho intenso e respeito à lei, o que lhe permitiu ser muito eficiente na agricultura, nas comunicações, na eletrônica, na fabricação de equipamentos médicos, na aviação e na indústria militar, e até no âmbito espacial, uma vez que já existem satélites israelenses girando em torno da terra.

Nem tudo, é claro, é perfeito no país, mas para julgar Israel sempre se deve perguntar onde existe outra sociedade livre e desenvolvida que em apenas seis décadas, surgindo do nada e contra vento e maré, conseguiu os êxitos obtidos pelo povo hebreu.

É hora de começar a falar do tigre semita. Temos que estudar muito bem o que ali se fez. É quase milagroso.


* Carlos Alberto Montaner é jornalista e escritor de origem cubana. Estima-se que sua coluna publicada numa cadeia de jornais é lida por seis milhões de pessoas. Suas opiniões fazem temer políticos na Espanha e na América Latina. Mantém-se numa posição como um dos mais respeitados jornalistas das Américas