O Hamas é aliado do Egito, da Turquia e do Qatar, mas usa armas iranianas.
Na Síria, a oposição usa armas turcas, sauditas e qatarianas para lutar contra
o regime de Bashar al Assad, apoiado pelos iranianos. Até um ano atrás, o Hamas
tinha como maior suporte no mundo árabe o governo sírio. Hoje são inimigos.
A oposição síria tem dezenas de facções. Algumas no exílio, reconhecidas
pela União Europeia. Outras na Síria, que não reconhecem a oposição reconhecida
pela União Europeia. São radicais islâmicos. Mas o Exército Livre da Síria, que
apesar do nome pomposo é um apanhado de milícias, não reconhece os milicianos
radicais islâmicos. Os dois são inimigos e lutariam entre si mesmo se Bashar al
Assad caísse.
O Hezbollah, na Síria, é aliado de Assad, um alauíta secular. O grupo
xiita, porém, sempre serviu de inspiração para os sunitas do Hamas, na
Palestina. Os sunitas do Líbano, por sua vez, se dividem entre os aliados de
Damasco, como o premiê Nagib Mikati, e os inimigos de Damasco, liderados pelo
ex-premiê Saad Hariri.
Em Damasco, os cristãos apoiam o regime de Assad. Mas um dos líderes da
oposição síria no exílio é um cristão marxista. Os cristãos libaneses se
dividem entre os que apoiam o Hezbollah, comandados por Michel Aoun, e os que
são contra o grupo xiita, comandados por Samir Gaegea. Os cristãos
egípcios, diferentemente dos do Líbano e da Síria, não são elite e sofrem
perseguição dos radicais salafistas, que por sinal também integram a oposição
síria.
Também havia muitos cristãos no Iraque, os caldeus. Com a guerra, fugiram
para a Síria. Com outra guerra, não sabem para onde ir. Os cristãos palestinos
são contra o ocupação israelense, mas também discordam do Hamas pela forma como
trata as mulheres e pelo radicalismo islâmico. Falando em Iraque, o atual
governo, apoiado pelos EUA, é alido do Irã e da Síria, inimigos dos americanos.
Existem ainda os árabes drusos. No Líbano, eles seguem Walid Jumblat, que
muda de lado de acordo com a tendência política na região. Na Síria, apoiam
Assad. Na Palestina, são contra Israel. Em Israel, são soldados israelenses.
Os curdos têm total autonomia no Iraque e fazem negócios com os turcos. A
Turquia e o Irã, porém, perseguem os curdos em seus territórios. A Síria, até
pouco tempo atrás, também. Agora, decidiu dar a eles um oásis para lutar contra
a Turquia, cujo premiê, maior inimigo de Bashar al Assad, era o maior aliado de
Bashar al Assad (não errei, é isso mesmo) até 2010.
O Qatar prega a democracia e a liberdade no mundo árabe ao mesmo tempo que
tem uma ditadura e trata as mulheres como cidadãs de segunda classe. O país
dono da rede de TV Al Jazeera patrocina milícias extremistas na Síria e apoia abertamente
o Hamas. Como a Turquia, que anos atrás era um dos principais parceiros
militares de Israel.
Não vou entrar em Tunísia e Líbia para não complicar. Mas tentei em alguns
parágrafos mostrar que o Oriente Médio não pode ser resumido a Israel versus Palestina.
O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do
jornal “O Estado de S. Paulo” e do portal estadão.com.br em Nova York e nas
Nações Unidas desde 2009 e comentarista do programa Globo News Em Pauta, é
mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez
reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia,
Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente
do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em
Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto
no Haiti, Furacão Sandy, Eleições Americanas e crescimento da Al-Qaeda no
Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos
Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o
blogueiro Ariel Palacios
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