por Daniel Pipes
The Washington Times
26 de Março de 2013
Original em inglês: Obama to Palestinians: Accept the Jewish State
Tradução: Joseph Skilnik
Uma importante guinada na
política externa dos EUA na cobertura da agitada visita de cinquenta horas, na
semana passada, de Barack Obama a Israel, passou despercebida na
avalanche de notícias. Essa exigência de que os palestinos reconheçam Israel
como estado judeu, "seria a declaração mais perigosa feita por um
presidente americano em relação a questão palestina, segundo o líder do Hamas Salah Bardawil.
Primeiramente, alguns
antecedentes: Os documentos da fundação de Israel tinham como objetivo fazer do
país um estado judeu. Na realidade o sionismo moderno teve início em 1896 com a
publicação do livro Der Judenstaat ("O Estado
Judeu") de Theodor Herzl. ADeclaração de Balfour de 1917 aprova
"um lar nacional para o povo judeu". A resolução
181 da Assembléia Geral da ONU de 1947, dividindo a Palestina
em duas, menciona 30 vezes o termo estado judeu. A Declaração do Estabelecimento de Israel
de 1948 menciona estado judeu 5 vezes, como por exemplo,
"nós … pelo presente declaramos o estabelecimento de um estado judeu em
Eretz-Israel, a ser chamado de Estado de Israel".
Por conta dessa forte conexão,
quando a diplomacia árabe-israelense começou a ser conduzida com seriedade na
década de 1970, a formulação estado judeu praticamente
desapareceu, todos simplesmente acreditavam que o reconhecimento diplomático de
Israel significava sua aceitação como estado judeu. Somente há poucos anos os israelenses
se deram conta que as circunstâncias eram outras, à medida que os árabes
começaram a aceitar Israel mas rejeitar sua natureza judaica. Por exemplo, uma
importante publicação de 2006 do Mossawa Center em Haifa, The Future Vision of Palestinian Arabs in Israel (A
visão do futuro dos árabes palestinos em Israel), sugere que o país se torne um
estado neutro em termos religiosos e um lar em comum. Em suma, os
árabe-israelenses passaram a ver Israel como uma variante da Palestina.
Ao perceberem esse artifício
linguístico, obter a aceitação árabe de Israel já não era suficiente, os
israelenses e seus amigos compreenderam que tinham que insistir na aceitação
explícita dos árabes de Israel como estado judeu. Em 2007, o primeiro ministro
israelense Ehud Olmert anunciou que, a menos que os
palestinos reconheçam o Estado de Israel como estado judeu, a diplomacia seria
interrompida: "Eu não pretendo ceder, de forma alguma, sobre a questão do
estado judeu, enfatizou ele. A Autoridade Palestina rejeitou imediata e
unanimemente a exigência. Seu líder, Mahmoud Abbas, respondeu: "Em Israel, há
judeus e não judeus morando lá,. Isso estamos dispostos a reconhecer, nada
mais".
Quando Benjamin Natanyahu
substituiu Olmert, como primeiro ministro em 2009, reiterou essa exigência como
precondição para a realização de negociações sérias: "Israel espera que os
palestinos reconheçam primeiro Israel como estado judeu antes das conversações
sobre dois estados para dois povos". O que não foi apenas rejeitado por
completo pelos palestinos, eles ainda ridicularizaram a ideia em si. Abbas
novamente: "O que é um estado judeu?' Nós o chamamos de "Estado de
Israel". Vocês podem se autodenominar como quiserem. Mas eu não vou
aceitar. ... Não é minha função ... apresentar uma definição para o estado e
quem nele morar. Vocês podem se autodenominar de República Sionista, o Hebreu,
o Nacional, a (República) Socialista, chamem-no do que vocês quiserem, não me
importo".
Há seis semanas apenas, Abbas novamente desferiu violentas
criticas ao conceito de estado judeu. A rejeição, pelos palestinos, da condição
de estado judeu não poderia ser mais enfática. (Para obter mais detalhes sobre
suas assertivas, consulte "Recognizing Israel as the Jewish State: Statements (Declarações:
Reconhecimento de Israel como estado judeu" acesse DanielPipes.org.)
Desde 2008, políticos
americanos, incluindo George W. Bush e Obama, se referiram a Israel como estado
judeu, ainda que evitassem cuidadosamente exigir que os palestinos também o
fizessem. Em uma típica declaração proferida em 2011, Obama delineou o
derradeiro objetivo diplomático como "dois estados para dois povos: Israel
como estado judeu e lar para o povo judeu e o Estado da Palestina como lar para
o povo palestino".
Assim sendo, em seu discurso em Jerusalém na semana passada,
Obama adotou repentina e inesperadamente a exigência israelense na íntegra:
"Os palestinos devem reconhecer que Israel será o estado judeu".
Esta sentença trás uma
inovação importante e não pode ser desfeita com facilidade. Ela também vai ao
encontro da excelência política, pois sem esse reconhecimento, a aceitação
palestina de Israel é vazia, indicando apenas que aceitam denominar o estado de
"Israel" em vez de "Palestina".
Não foi a única guinada
anunciada durante a viagem de Obama (a outra foi: dizer aos palestinos que não
apresentem precondições para iniciarem as negociações), esta é de extrema
importância porque contraria, de forma incisiva, o consenso palestino. Bardawil
pode até assegurar exageradamente que isso "mostra que Obama deu as costas
a todos os árabes" mas essas dez palavras, na realidade, demonstram a
disposição de tratar do problema central do conflito. Elas provavelmente serão
a sua contribuição mais importante, duradoura e construtiva quanto à diplomacia
árabe-israelense.
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